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quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

O dia que a arte dissolveu o medo

As mãos de Rose e Zé Ricardo raramente se soltam. Pode até existir gente que pense que o entrelaçar constante de dedos seja por causa de Zé ser cego há 22 anos dos 44 que já viveu. Mas eu acho, acho não, tenho certeza, que eles não se desgrudam nunca é por causa do amor. Sorridente, com sorrisos verdadeiros que parecem permanentes, Zé não deixa dúvidas.

Também acho que é por isso mesmo que ele e Rose encontraram no riso a solução para conseguir resolver um problema que mudará a vida de Zé. Qual problema? José Ricardo esperou pelo transplante de rim e pâncreas por anos. Mas quando os órgãos enfim apareceram não havia sangue suficiente para realizar a cirurgia. O rim e o pâncreas foram para o lixo e José voltou para a fila. Porém, graças a Deus, novos órgãos já apareceram.

Desta vez, Rose e Zé Ricardo estão em campanha pela doação de sangue. TVs, rádios, jornais de papel, todo mundo noticiou a história e pediu que a cidade fosse ao Hemominas doar.

E Zé foi pessoalmente lá, acompanhado dos Doutores Palhaços de Divinópolis, que decidiram dar uma forcinha. Ao seu sorriso juntaram-se vários outros, os de toda aquela turma de clowns... Rose também foi feliz, porém o medo tomou conta do riso. Com certeza, ela não imaginava que um dia na vida iria se pintar, colocar nariz vermelho e fazer várias gracinhas. Quanta ansiedade! É claro que o Zé percebeu, tantos anos de convivência, de amor e de cuidado, não deixam que nenhuma sensação do outro seja perdida.

Rose parecia decorar uma casca de ovo ao pintar o rosto, de tanto nervosismo. Apesar de toda euforia e descontração dos palhaços, o medo não passava. Mas um daqueles palhacinhos decidiu mudar essa história. Sem medo, ele disse: “Ei, tá com medo de ficar branca?”. A resposta de Rose veio em forma de gargalhada e de coragem. Por causa da brincadeira ,que até dissolveu o medo de Rose, ela até ganhou o nome de Palhaça Clara, pois no mundo dos palhaços todo mundo ganha um novo nome.

Depois disso, a missão se cumpriu. Todos aqueles palhacinhos pediram que quem fosse doar voluntariamente doasse para o José Ricardo Machado Gonçalves. Quem já havia dito que não iria dar o sangue para ninguém específico até voltou na moça e deu o nome completo dele. O melhor, foi gravado um documentário que já está no YouTube para todo mundo continuar a doar.

Agora, duvido que vai faltar sangue pro Zé. Ele vai continuar a andar por muitos anos de mãos dadas com a Rose, só que com mais saúde. Aliás, ele vai ganhar um rim, um pâncreas e já ganhou uma mulher palhaça. Ela já aprendeu diretinho com aqueles doutores. Rose até me disse que foi um dia que começou com medo, mas que acabou com muita merda!

Sobre o texto: 

Eu vi parte desta história na TV e por "coincidência" conheci a Rose e o Zé Ricardo pessoalmente no projeto "Nascente de Histórias". Fiquei emocionada três vezes, quando soube pela televisão que o José Ricardo não foi transplantado por falta de sangue, quando a Rose me contou esses detalhes lindos e ao passar para o "papel" esta história que terá, em breve, um final feliz. Ela me contou que a qualquer momento o Zé será chamado para realizar o transplante, é o primeiro da lista!

Este texto foi escrito para o projeto de contação de histórias do qual comecei a participar, mas de qualquer forma eu o escreveria. 

Doe para o Zé Ricardo!

Para doar para o Zé, é só ir ao Hemominas mais próximo e dizer que o sangue vai para o José Ricardo Machado Gonçalves no Hospital das Clínicas de Belo Horizonte. 

Vale qualquer tipo de sangue.






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