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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Má companhia


Vencer o tabagismo é difícil, mas não impossível. 
 Quem escolhe parar tem encontrado apoio dos amigos nas redes sociais. 

Carpinejar e Cinthya Verri

Ele é um companheiro após o cafezinho ou no bar antes daquela cerveja com os amigos, na pausa do trabalho e está entre os dedos nas atividades mais triviais do cotidiano. Faz parte da vida do fumante. Talvez, por isso mesmo seja tão difícil parar de fumar. “O mais difícil é desvincular o cigarro da vida. Eu só escrevia fumando, fica muito difícil trabalhar sem o cigarro. Ele cria necessidades que não existiam antes. Difícil também é acostumar com a lentidão do raciocínio” diz o escritor e jornalista Fabrício Carpinejar que abandonou o vício após 22 anos consumindo cerca de dois maços de cigarro diariamente. Segundo a médica e mulher de Carpinejar, Cínthya Verri, que fumou durante seis anos e abandonou o hábito há nove, os primeiros meses sem cigarro foram um pesadelo exatamente porque ele fazia parte do cotidiano dela. Cínthya diz que até os momentos de lazer se tornaram mais difíceis. “As atividades prazerosas como tomar chopp ou um café sempre vinham acompanhadas do cigarro” conta Cínthya.

Se o cigarro é um companheiro, por outro lado ele é também o responsável por uma morte a cada seis segundos, isso só neste ano. No total, serão 6 milhões de pessoas mortas por causa do cigarro até o final de 2011 segundo a OMS, Organização Mundial de Saúde. Por causa dessas estatísticas e dos conhecidos males do cigarro, o número de fumantes tem diminuído. Porém, mesmo sabendo dos malefícios muitos não conseguem parar. “Embora a estatística do Ministério da Saúde demonstre que entre 2006 e 2010 a proporção de brasileiros fumantes caiu de 16,2% para 15,1%, o hábito ainda continua arraigado em nosso meio e o mais preocupante é o fato de que enquanto ocorre um declínio entre os adultos, aumenta entre os adolescentes” afirma o médico Hélcio Greco.

Os ex-fumantes Fabrício Carpinejar, Cínthya Verri e Aline Wéber confirmam a afirmativa do médico. Todos eles começaram a fumar muito cedo, entre os 16 e 17 anos. Outra coincidência entre eles é que todos encontraram boas razões para abandonar o vício. No caso de Aline, foram os filhos o motivo mais significativo para viver sem cigarro. Ela decidiu parar há alguns meses, mas diz sentir que será para valer. A preocupação dela é bastante significativa, pois 40% das vítimas do fumo passivo no Brasil são crianças. De acordo com Drº Helcio, os homens fumam mais em qualquer faixa etária, mas o número de mulheres fumantes mais jovens tem crescido e a diferença entre homens e mulheres tende a diminuir. “Esta tendência é grave, pois as mulheres, além da responsabilidade biológica de gerar filhos, convivem com eles intensamente até a adolescência, transformando-os em fumantes passivos e levando-os a encarar o ato de fumar como um comportamento social normal. Sabe-se que nos adolescentes e adultos jovens filhos de pais fumantes há maior prevalência de tabagistas” alerta o médico. 
Aline e os lindos motivos
 p/ parar de fumar: os filhos 

Carpinejar decidiu parar depois de muita insistência da mulher Cínthya. A campanha começou após ela notar que ele estava com o primeiro sintoma de uma efisema pulmonar futura, o baqueteamento digital, quando os dedos ficam arredondados, em formato de baquetas, parecidas com as usadas pelos bateristas. Até os filhos dele foram chamados para ajudá-la nessa tarefa. Quatro meses depois ele resolveu abandonar o vício.

A cada semana sem cigarro, a mulher o presenteia com um cartão de incentivo e parabenização pela conquista. Outra tradição que se repete semanalmente desde que ele decidiu lutar contra o tabagismo, são as postagens no microblog Twitter com o tempo que ele está sem cigarro. No blog que ele escreve, um dos mais influentes em literatura do Brasil, o escritor já dedicou alguns textos a essa batalha. O cronista recebe vários comentários e tweets de incentivo. “Isso é essencial, pois para parar de fumar é necessário o empurrão do abraço. É preciso haver um grande circuito de pequenos incentivos para conseguir abandonar o vício” afirma o escritor.

Aline também compartilha essa luta na internet. Cada conquista é dividida com os amigos na rede social.”Decidi fazer isso para dar força a muitas outras pessoas que assim como eu já tentaram ou querem parar, mas acham que não conseguirão. Muitas pessoas me perguntaram como que consegui, ficaram interessadas e encorajadas.” conta Aline. 

Segundo Cínthya, para deixar de fumar é preciso saber reconhecer o lado bom de viver sem cigarro. “A saúde melhora, o tempo com os amigos é maior, já que não é preciso se ausentar e deixá-los esperando para fumar, a disposição aumenta” destaca ela. Aline diz que sentiu essas boas mudanças em tudo. “Tenho mais tempo e disposição para brincar com os meus filhos, mais dinheiro no bolso, minha pele, meu cabelo, minhas unhas, meus dentes, enfim, está tudo melhor. Sou uma nova pessoa” declara ela, feliz. Carpinejar diz que sente muitas melhorias. “Estou menos ansioso e agressivo e mais cheiroso também” afirma o escritor. Como dica para quem quer parar de fumar ele sugere: “Tenha consciência de que o cigarro é mais forte do que você. Não cante vitória e não evite a convivência com fumantes. É preciso muita concentração para conseguir abandonar o vício.”

Observações: Esta matéria foi publicada na revista Bem de Vida de janeiro de 2012. Foi uma das que mais gostei de fazer, pois além de me aproximar do meu ídolo Carpinejar, consegui dar um foco diferente na matéria. Ao invés de contar histórias de fracassos e sucessos, malefícios do cigarro, decidi falar sobre como algumas pessoas tem encontrado nas redes sociais apoio para abandonar o vício. 

4 comentários:

Anônimo disse...

Talita, essa matéria está ótima e me ajudou muito em pensar na hipótese de para de fumar...
Vou planejar uma estratégia, pois onde moro todos são fumantes, e são 3 pessoas soltando fumaça de cigarro a todo momento em minha casa.
Sem contar o fato de toda hora achar um cigarrinho de palha que é meu predileto. E vou te falar que é muito difícil a situação de estar a horas sem fumar e entrar no seu banheiro e encontrar um cigarrinho pronto pra você e sem ninguém pra te vigiar e observar... essa é minha batalha maior. As tentações de uma casa de fumantes!
Rita Kárclem

Talita Camargos disse...

Adoro quando o que escrevo incentiva as pessoas. Tomara que você consiga parar, te fará muito bem.

Beijos e boa sorte!

Badalo disse...

Aline Weber NÃO PAROU DE FUMAR.

Essa coisa de filho não cola.

Outras que NÃO pararam de fumar, apesar de terem garantido que sim para a *imprensa especializada*:

Giovana Antonelli, Lavinia Vlasak, Leticia Bierkeuer, Danielle Winits e muitas outras !

Talita Camargos disse...

Badalo,

A Aline Weber não é celebridade, é uma mulher que vive em Lagoa Santa, anônima. Inclusive, é a que aparece na foto da matéria.