Não fosse o banco e a sombra em frente à casa de
Seu Geraldo, os minutos se arrastariam muito mais até a chegada do ônibus. Antes mesmo do trabalho eu
já teria reclamado do sol, de ficar em pé e da demora da lotação. Mas Seu Geraldo colocou um
banquinho na calçada, plantou uma árvore que floresce em amarelo e de vez em quando até aparece no ponto para conversar um pouco. Ele, inclusive, me viu um pouco triste um dia desses e me deu uma oração, disse para eu rezar que tudo mudaria. Não sabe o meu nome e nunca perguntou, mas faz questão de prosear. Quando o assunto é conhecimento e estudos ele sempre começa dizendo que nunca estudou e depois tece comentários interessantes, engraçados.
O que acho mais chama a minha atenção é que a prosa se inicia com a mesma pergunta:
"Vai para a cidade hoje, fia?". Por vezes respondi automaticamente que sim, sem pensar na
sabedoria e percepção de Seu Geraldo. Aquele simpático senhor vê que o bairro é quase que um local a parte, não é tratado como parte de Divinópolis, já que nem uma simples guarita foram capazes de instalar na periferia para dar mais conforto a quem depende do transporte público.
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Lugar para quem quiser se sentar entre
uma degustação e outra dos biscoitos de São
Tiago, Minas Gerais. |
Porém, se por um lado os administradores esquecem de quem não está no Centro, os
moradores do interior se preocupam com os outros. Há muitos "Geraldos" nas pequenas e médias cidades. É possível encontrá-los nas capitais também, claro, porém acredito que em menor número. Eu, pelo menos, morei em um bairro bem simples de Belo Horizonte e nunca tive a sorte de encontrar um banco e uma sombra para sentar onde não havia guarita. Mas na lista de características genuínas do interior mineiro
o banco de frente à casa têm lugar garantido. Com um pouco de mais intimidade, bem pouco mesmo, um convite para entrar e saborear um bom café com pão de queijo é certo. Eu não vou ficar nem um pouco surpresa se Seu Geraldo, quando descobrir o meu nome, me chamar para sentar à mesa.
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